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A falta de civismo de uma pessoa revela-se em qualquer oportunidade que surja, seja ela no trabalho, em casa, nos transportes públicos. A injustiça e a falta de “tomates” revelam-se também nessas mesmas circunstâncias.
Estou em choque. Ainda sem conseguir perceber muito bem, mas estou em choque. Não tinha visto ainda a notícia quando ela me chegou por WhatsApp e eu achei que era referente a um outro assunto. Mas depois li meio na diagonal e só quando surgiu oportunidade é que consegui ver o video que me deixou incrédulo.
Não sei se o meu choque e incredibilidade é por aquilo que foi dito se pela atitude dos outros viajantes. Ainda não me consegui perceber isso.
Para quem possa ainda não ter visto e se sinta um pouco deslocado, o que se passou foi a agressão verbal e quase física que aconteceu no metro do Porto, por parte de uma mulher (acho que não lhe consigo chamar senhora) sobre um jovem LGBTQIA+, após este lhe ter pedido para colocar a máscara. Para quem não sabe, ainda é obrigatório o uso de máscara nos transportes públicos, sejam eles metro, comboio, avião, táxi. É obrigatório, volto a relembrar.
Como está aquele “meu irmão” que sofreu na pele este ataque?
Pois de uma advertência passou-se para os insultos grossos, fortes, desumanos. E isto tudo debaixo dos olhares dos espectadores que a única coisa que foram capazes de fazer foi, nada mais nada menos, que observar, impávidos e serenos, com palavras de “tenha calma, já passou”, "não se zangue, não vale a pena"!
Mas o que é que não vale a pena? Maltratar outra pessoa e sair ileso? É isso que vale a pena? Mas afinal o que é que não vale a pena?
Questiono-me sobre em que tipo de sociedade vivemos, que sociedade estamos a formar, o que é isto? “Paneleiro de Merda”, “Verme”, “Maricas”, “Filho da P###”… Só faltou bater palmas a esta criatura (e desculpem perder a compostura, mas não sei o que lhe chamar) pelo belíssimo espetáculo que deu para animar o pessoal lá do metro. Sim, que isto mais parecia um circo com um indefeso a ser “chicoteado” por um agressor. Batam palmas! Batam! Sejam esse tipo de pessoa que passa, vê e nada faz!
Andei muitas vezes pela cidade do Porto como quis. Andei de saltos, saia, flores e folhos. Andei de metro, passei em frente a tascos com bêbedos à porta, por ruas mais sombrias. Nunca tive medo porque sempre achei que estava seguro. E de alguma maneira, estava seguro porque esta mulher não representa o pensamento da cidade.
E agora? Como está aquele “meu irmão” que sofreu na pele este ataque? Como está ele? E todos os outros? E aqueles que não são tão fortes, que começam a abrir uma fresta do armário? Alguém pensa neles todos? Alguém pensa em como a atitudes de todos aqueles que estavam naquele metro e que nada fizeram é também a força que nos oprime dentro do nosso quadrado com medo de sair?
Falta-nos formação para o Civísmo. Falta-nos a coragem, os “tomates” no sítio para fazer frente a esta pessoa que do alto do seu pedestal oprimiu e maltratou. A esta e a outras tantas. É por isso que não nos podemos calar até que ninguém tenha medo de sair à rua e poder ser chamado “PANELEIRO”, “VERME”, “MARICAS”.
Precisamos de ativismo nesta forma de ser! Precisamos de gritar, alto, de não nos calarmos
contra este tipo de ações. É preciso agir, é preciso não ter medo, é preciso sermos mais unidos. A vergonha está estatelada na cara de muitos. A vergonha está lá. Mas enquanto não for com um dos nossos, está tudo bem. Não preciso que um amigo meu sofra este tipo de ataques para me manifestar. Um a um é como caem os guerreiros nos campos de batalha. Compadecemo-nos pela desgraça alheia mas nada fazemos para mudar este comportamento. É preciso agir já!
"PANASCA"
"BOCA DE CONA"
"BROXISTA"
"FILHO DA PUTA"
"PANELEIRO"
"MARICAS DO CARALHO"
"FAZ-TE UM HOMEM"
"PORCO"
"NOJENTO"
"VERME"
"VERME DO CARALHO"
"MONTE DE MERDA"
"PANASCA DO CARALHO"
"ESTERCO DE MERDA"
Tristemente, um rapaz muito queer.